Jun 21, 2006

isto é um crime!!

LAMARTINE BRASILIANO DA SILVA no sinal da Avenida Tiradentes, em São Paulo. O vendedor de farol veio de Pernambuco há cinco anos. Sem-escola, aprendeu a ler num cordel da feira. Tornou-se um apaixonado por livros e pela literatura brasileira. É o leitor mais voraz do Prestes Maia. (leia matéria toda aqui - mas leia mesmo!)
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Ele nasceu Lamartine 38 anos atrás. A mãe dele e de outros 19, a doméstica Lúcia Maria, era uma apreciadora do compositor Lamartine Babo. O Brasiliano ele herdou do pai. O gosto pelo Brasil nasceu com ele. A língua portuguesa imiscuiu-se nos ouvidos de menino de feira no Recife e se enraizou como mangue, quando conheceu Gilberto Freyre e Guimarães Rosa nas bibliotecas públicas da capital pernambucana. Lúcia Maria não tinha dinheiro para calçar com "sapato-conga" as duas dezenas de filhos, uma exigência para freqüentar a sala de aula. "Minha mãe fez então uma seleção", diz. "Sou dos que ficaram fora da escola."
No time dos descalços, Brasiliano tinha tamanha ânsia que pulava o muro do colégio e espiava as aulas pelas frestas da janela. "Quando o porteiro me pegava, jogava pra fora", diz. Descobriu os livros perseguindo os alunos em trabalhos escolares na biblioteca. Pesquisava como se fosse estudante, mas era só um menino pobre exilado das letras. Tanta era a gana que acabou aprendendo sozinho a juntar consoantes e vogais num dos cordéis da feira, entre macaxeiras, cabritos e uma alegria desmazelada. As letras se arranjaram como numa partitura, e ele leu pela primeira vez sobre "A chegada de Lampião no inferno". Tinha 7 para 8 anos. Foi como uma ponte sobre o fosso de sua vida.

Brasiliano pergunta: "Se tenho mágoa? Como não ter mágoa deste mundo? Eu queria estudar literatura na universidade. Mas faculdade é um sonho tão distante que não existe. Para isso, eu tinha de estar na escola e estou no farol". No farol, ele é o rosto de um povo assassinado para o qual sempre é tarde demais. Ganha R$ 30 por dia vendendo água e refrigerante pela janela dos carros. Cada real a mais vai para a compra de um livro. Brasiliano economiza para comprar Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre. Segue querendo entender o país. "É a continuação do nosso inho. Como Ronaldinho, que é inho e é herói", diz. (leia mais aqui)
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nota de mauro tatini: pra quem tem preguiça de ler a matéria toda, tenha vergonha na cara - voce pode, quando tem gente como Brasiliano que teve que defender quase que com a vida pra adquirir isso que é de direito. Pra quem mesmo assim ainda tem preguiça, não leia, mas faça a sua parte: doe teus livros pra biblioteca desse pessoal que tem mais uma fome - a de leitura! (não tem livro algum? sem comentários - mas saia, compre e doe!) - doações enviadas à Av. Prestes Maia, 911 - não poderia ser endereço mais sugestivo! (eles estão tentando adicionar uma "brinquedoteca" à biblioteca, portanto, brinquedos são bem vindos)
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"My mother said I must always be intolerant of ignorance but understanding of illiteracy. That some people, unable to go to school, were more educated and more intelligent than college professors." (maya angelou)

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